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quarta-feira, 22 de agosto de 2012
Ideologia Rock: a coragem do The Clash
O The Clash é uma banda inglesa formada em 1976 na ascensão do movimento punk na segunda metade da década de 70, encabeçado por eles e o Sex Pistols no Reino Unido e pelos Ramones e The Stooges nos Estados Unidos.
A banda, desde seus primeiros registros se caracterizava pelo visual rebelde e pelas letras politizadas, com mensagens sociais, protestos, sempre abordando temas relevantes em suas canções. A música em si seguia os rumos do punk na época, com canções rápidas, sem muitos efeitos ou firulas, cru e direto ao ponto, porém com uma diferença em relação às bandas contemporâneas, a influência notável de reggae.
Já no primeiro disco homônimo lançado em 1977, o Clash demonstrava seu potencial, já lançando canções muito boas, que são tidas como clássicas até os dias de hoje, como "White Riot”, “I’m so bored with the USA” e “Career Opportunities”. O disco não foi lançado nos Estados Unidos, porém teve boa repercussão na Inglaterra e Reino Unido.
O segundo álbum sairia no ano seguinte, 1978, chamado “Give’Em Enough Rope”, foi o primeiro da banda lançado nos Estados Unidos e também o primeiro a atingir a lista da Billboard 200, na posição de nº 128. Lançou como singles as canções “Tommy Gun” e “English Civil War”. O disco mostra a contínua evolução da banda, superando o trauma que toda banda passa no lançamento do segundo álbum, novamente deixando claras as influências de ritmos jamaicanos no som da banda.
Porém o melhor ainda estava por vir, em 1979, a banda lançaria o seu maior clássico e um dos maiores clássicos da história do rock: “London Calling”. O álbum duplo colocaria o The Clash de vez na história do rock, sendo um trabalho atemporal, daqueles que você vê uma uniformidade, com grandes canções, ótimas letras e uma banda talentosa e coesa tomando conta da situação. Como nos outros discos, a maioria das canções eram feitas em parceria por Joe Strummer (letras) e Mick Jones (melodias e arranjos), sendo que ambos eram os grandes egos da banda, com algumas exceções de canções feitas pelo baixista Paul Simonon. São dezenove faixas, que encantam o ouvinte a cada acorde, há praticamente todos os ritmos no disco, desde pop, punk, reggae, ska, jazz, R&B e rockabilly, além de ter músicas que estão inseridas no imaginário pop pra toda eternidade, tais como a música título, com um riff marcante e uma aura magnífica; “Clampdown”, com sua letra de protesto questionando o sistema; a pop “Lost In The Supermarket”, que fala sobre consumismo; e uma espécie de balada torta “Train in Vain”, clássico. “London Calling” está em dez de dez listas dos melhores discos da história do rock, sempre nas primeiras vinte posições, de forma merecidíssima, diga-se de passagem. A capa do álbum merece um destaque também, uma das melhores da história de rock, com uma foto de Simonon quebrando uma guitarra e com uma referência explicita da fonte da letra à capa do primeiro disco de Elvis Presley, de 1956.
Após o álbum consagrado seria difícil a banda se superar, então resolveu ousar mais ainda nas misturas de influências e experimentalismo, lançando em 1980, “Sandinista”, onde são 36 músicas, compondo um disco triplo, o que gerou entreveros entre a banda e sua gravadora, pois a primeira queria que fosse lançado a preço de um disco simples, porém a quantidade de músicas só prova o quanto a banda estava prolífica à época. As músicas não possuem muita uniformidade entre si como no álbum anterior e novamente possui de tudo, de jazz a reggae, de punk a funk, o disco seria catalogado nos dias de hoje como ‘world music’. Ainda assim possui grandes clássicos do quilate da sensacional “The Call Up”, “Police On My Back” e “The Magnificent Seven”. O disco não é tão lembrado quanto seu antecessor por motivos óbvios, mas tem grande destaque na discografia do Clash, sendo que dentro daquela miscelânea de sonoridades, pode-se ver muito do que viria ser tendência nos anos seguintes.
Em 1982, a banda lançaria seu álbum de maior sucesso comercial até então, “Combat Rock”, puxado por clássicos como “Should I Stay Or Should I Go” e “Rock The Casbah”, canções que tocam nas rádios até hoje e são regravadas frequentemente. O disco foi primeiramente produzido por Mick Jones, porém o trabalho não agradou o restante da banda que chamou outro profissional para finalizar o disco. A banda descomplicou seu som nesse disco, além de voltar ao lançamento simples, lançou músicas mais voltadas para influências jamaicanas e as raízes punk, de modo que garantiu ótimas vendas tanto nos Estados Unidos e Inglaterra.
Após o lançamento de “Combat Rock” a banda passa por algumas mudanças, uma delas a demissão do baterista Topper Headon, sendo que a banda alegou o motivo o uso abusivo de drogas por parte do músico, para o seu lugar foi chamado o baterista original da banda Terry Chimes, porém o mesmo ficou pouco tempo devido a constantes conflitos entre os músicos, sendo substituído por Pete Howard. No entanto, o grande golpe viria a seguir, em 1983, Joe Strummer e Paul Simonon decidem demitir Mick Jones da banda, devido a divergências musicais e seu comportamento problemático, esse era definitivamente o iminente fim da banda, porém num último suspiro, dois guitarristas são convocados para substituir Jones, Nick Shepperd e Vince White.
Em meio a todas essas turbulências, o Clash lança o que viria a ser seu último disco, “Cut The Crap” lançado em novembro de 1985. O disco traz uma banda descaracterizada, com uso abusivo de bateria eletrônica (imposto pelo empresário e produtor do disco Bernie Rhoades) e sintetizadores, gerando um som estranho e longe do brilhantismo de seus antecessores. Foi lançado apenas um single “This Is England” e com o passar do tempo o disco foi desconsiderado pelos fãs e pela própria banda, sendo que poucas coletâneas possuem o único single gerado pelo álbum, além de não ser citado na maioria dos documentários sobre a banda.
A banda encerrou suas atividades oficialmente em 1986, e seus integrantes seguiram suas carreiras com Jones montando a banda Big Audio Dynamite, com forte influência de ritmos jamaicanos e relativo sucesso nos anos 80 e hoje faz parte do Gorillaz; Simonon se dedica a artes visuais, além de também fazer parte do Gorillaz e The Good, The Bad and The Queen; Strummer lançou algumas bandas, atuou em filmes e faleceu em 2002, vítima de um ataque cardíaco; e Topper Headon formou uma banda de jazz e em tributo ao The Clash.
Desde que conheci o The Clash me fascinei pela história da banda, por ser diferente da maioria das outras bandas que atingem sucesso comercial, principalmente pela ousadia e inquietação de seus integrantes. Ao lançar “London Calling” eles já tinham seu álbum clássico e poderiam muito bem tomar o rumo da bundamolice e seguir um método de trabalho para se manterem na mídia ad infintum, porém não se contentaram e procuraram sempre se superar a cada trabalho, buscando novas influências e novas sonoridades, com coragem, acertando e errando, mas nunca se omitindo da sua veia artística ou se rendendo a imposições de produtores e gravadoras.
O Clash misturou a porra toda e deu liga, tocou ska, funk, punk, reggae, R&B, jazz, eletrônico, rap, pop e o que mais pintasse, simplesmente pelo amor à música, não se contentaram em ser um dos pilares do movimento punk – e o são - e buscaram cada vez novos rumos para que sua carreira não ficasse estagnada.
O punk do The Clash foi além das roupas e pose de mal do Sex Pistols, pois buscou se reinventar a cada disco, focou na música, sendo influência direta para as gerações que viriam a seguir e mesmo quando derrapou no seu último disco, errou de pé, com coisas novas e musicalidade que com algumas alterações viraria moda na década de 80.
Não sou fã número zero da banda e eles sequer estão entre as minhas cinco bandas favoritas (certamente entre as dez), mas a coragem de músicos como os do Clash me fazem respeitar demais a história dessa grande banda, cujos discos e canções ficarão marcados para sempre na história da música.
Se você ainda é daqueles fãs de música bitolados que chamam o artista de vendido a cada mudança que ocorre na carreira do mesmo, você certamente ficaria desnorteado a cada lançamento do The Clash, pois poderia esperar de tudo, menos repetição e conformismo.
PUNK até a alma e não só no marketing, com propriedade de quem veio do proletariado inglês, esse era o Clash, corajoso, talentoso e potente, impunham seus instrumentos como armas, evocando todos para o combate contra um sistema ilusório e injusto que oprimia a jovens que só queriam sonhar e se divertir.
Procurei a tradução de clash para o português e discordei do significado encontrado: choque. A meu ver, o mais correto seria atitude.
Obrigado The Clash!
David Oaski
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